Pastorinhas - Folclore Brasileiro Natalino



















COLLEGIUM CANTORUM VIVENCIA FOLCLORE NATALINO

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Sobre a pesquisa dos dados musicais:
A busca pelas raízes do Natal Brasileiro deu-se em virtude da conscientização de que esse aspecto está praticamente esquecido em nossa sociedade moderna e internacionalizada. Essa pesquisa acabou chegando ao fato folclórico, que não se restringe à simples expressão musical, mas a todo um conjunto de tradições, expressões dramáticas, carregadas de significado, e que moldaram o nosso povo, nossa música, nosso jeito de ser e festejar.

O Natal desenvolve-se nos seus aspectos folclóricos em derredor da Missa do Galo, construção e visita aos presépios. A Missa do Galo, realizada à meia noite de 24 de dezembro, participa do nosso contexto folclórico, no seu aspecto de ponto de encontro no interior das igrejas ou na parte externa e vizinhanças, de quem espera a saída da missa.

Afora o seu significado religioso católico, ir à Missa do Galo é costume tradicional e folclórico de nossa gente. Na apresentação de folguedos populares, o ciclo de natal no Brasil reveste-se de muita importância, principalmente no Nordeste, onde se apresentam Reisados, Reiseiros, Guerreiros, Pastoris, Baile Pastoril ou Presépio, que podem funcionar como grupos que angariam donativos para as festas ou que homenageiam o nascimento de Jesus, através da visita aos presépios ou apenas em cantorias. Na Amazônia é assinalado, principalmente, pela presença das Pastorinhas ou Pastoril e no Sul pelas Folias de Reis ou Santos Reis.

Durante a pesquisa cristalizou-se a riqueza material e melódica existente nas Pastorinhas, e decidiu-se dedicar todo um projeto para explorar, conhecer e divulgar essa manifestação tão típica do nosso folclore, inerente às Festas do Ciclo do Natal.

Sobre os aspectos simbólicos do trabalho:

Viajar. Uma atividade real nem sempre física, veículo do contato com o novo, (viajar no invisível e no imaterial também é um contato real: do consciente com o inconsciente, isto seria sonhar!). Mas existe um risco no contato com o novo: a mudança de identidade: nunca mais seremos os mesmos ao colocarmos obras de arte, povos, épocas, indivíduos, livros e histórias para conversarem: ampliaremos nossa identidade, seremos nós mesmos só um pouco mais. No caso de As Pastorinhas: mais brasileiras!

Atualmente, temos grande interesse na inter-relação dos saberes, mas podemos cometer indelicadezas ao nos aproximarmos insensivelmente de um saber, ou seja: por meio do nosso meio de pensar e dos nosso métodos.

A liberdade de pensar ajuda a não mistificar um saber desconhecido ao saber erudito e acadêmico e livra da pretensão de “esclarecer” mistérios. Além do mais, todos nós possuímos aquele material arquetípico, feito de sentimentos e instintos, o qual faz de todo homem um viajante capaz de conversar em terras estranhas.

Enfim, este trabalho se realizou ao sabor da liberdade do pensamento dos viajantes, e não no rigor de prestar informação. Considerem-nos contadoras de uma viagem realizada para o seguinte projeto:
Conhecer. Esta palavra cheia de possibilidades guia a alma humana (como estrelas guiam, segundo nos contaram); Pensar. Abrange o modo lógico (mas transcende a ele pela fantasia); E Contar.

Esta atividade de estimação que transmite saber com afeto (e acostuma-nos a cultivar hoje valores do tempo antigo). Segundo Walter Benjamim: “A Arte de Narrar caminha para o fim (...) é como se uma faculdade , que nos parecia inalienável, a mais garantida entre as coisas seguras, nos fosse retirada. Ou seja: a arte de trocar experiências”.

Pois bem, escolhido o destino escolhemos o nome que daríamos à jornada: “Vivência!” Não espetáculo, não reprodução, não leitura. Admitido isto seguimos, com respeito ao saber popular, mas empenhadas em conhecer este bem comum de caráter doméstico e sagrado revelados por costumes e ritos. Dêem-nos licença para mais uma comparação: colhemos pequenas mudas neste jardim fundamentalmente nordestino e popular a fim de trazer ao jardim curitibano e erudito do Collegium Cantorum. Portanto, perdoe-nos o sotaque!

Escolhemos também boa bagagem para viajar neste fato folclórico, chamemos de critérios. Primeiro: se concentrar no conteúdo simbólico e conhecer as diversidades da forma nas figuras e na ornamentação. Depois, escolher com o que conversar deste material pesquisado E, finalmente, o óbvio: reconhecer a impossibilidade de esgotá-lo.
Giovana de Salles Gregório














Descrição da “Vivência”:
O Pastoril Dramático Familiar, também chamado Auto das Pastorinhas ou Dança das Pastorinhas é uma sucessão de cenas, falas e cantos, representando cenas bíblicas ou enredos piedosos. Pastoris são danças e cantos originários de Portugal e recriados no Brasil com características próprias. Pastoril é um rancho alegre de meninas, que ano após ano, por ocasião das festas do ciclo de Natal homenageiam o Deus Menino. As pastorinhas representam autos.

É o festivo teatro popular, alegre, jocoso, com “jornadas” cheias de ensinamentos morais e religiosos. As músicas, cheias de ternura, enchem de encantamento as noites em que as pastorinhas visitam os presépios ou quando, nos dias de Natal o pastoril se apresenta no tablado das praças.

Constituem-se de cantos, louvações, loas, entoados diante do Presépio na Noite do Natal, aguardando-se a Missa da Meia Noite: uma grande confraternização diante do Presépio. O presépio torna-se o centro do mundo: reúne a religião pagã, os povos nômades, os trabalhadores da terra, a presença da psique, a simbologia universal, a sabedoria, o conhecimento, a riqueza, a pobreza, o racional, o irracional, o celeste, o terrestre - Jesus veio para todos.

“ As Pastorinhas” é uma reunião singela e maternal, adornada de flores e muito surpreendente por suas representações: o Sábio Simão, figurando o espírito crítico; Diana, a deusa grega protetora das mulheres grávidas; e a Cigana do Egito vindo reverenciar a divindade hebraica, mas também representante dos primeiros adoradores de flores que temos conhecimento, por seus adornos de flores estilizadas e de seus geniais jardins à margem do Nilo, também estilizados; A Borboleta, figura da alma por sua capacidade de transformação, pousa neste jardim junto de outro ser alado: O Galo, vigilante alerta que desperta a humanidade e segundo Shakespeare: “(...) dissipa o pavor noturno avisando a proximidade luminosa (...)”; Os Anjos são seres espirituais e celestes aterrissando para acompanhar o significado do acontecimento natalino: a união do céu com a terra. O presépio reúne ainda os trabalhadores da terra e a Estrela, que guiou esta viagem.


“A JORNADA DO NATAL”
Texto dramático: “O Presépio de Marechal Deodoro”
versão D. Maria Souto – Alagoas
Texto narrativo: Giovana de Salles Gregório
Despedida: Luís da Câmara Cascudo
Personagens: Cantorum, Anjo, Borboleta, Camponesa,
Mestra, Contramestra, Velho, Pastoras,
Diana e Cigana.

PROGRAMA

FOLCLORE – PASTORIL: Arranjo: E. Ruzanowski
I - Boa noite, minha gente, hoje é noite de natal,
Festejamos bem contentes a nosso Pai celestial;
Hoje é noite de natal, oh, meu Senhor
Hoje é natal, cheio de amor! É natal!

II - No firmamento uma estrela apareceu
De raro brilho e de beleza sem igual
Anunciando que Jesus nasceu
Dando-nos assim a linda noite de natal.
Então nós, as pastorinhas e os pastores
Iremos também a Belém, cheios de fé,
Cheios de amor, levando flores pra Jesus o Redentor.
Pedimos de todo o coração, nesta nossa exaltação
Elevando-nos da vida material,
Jesus, oh! Jesus dá ao teu povo um feliz natal
E um bom Ano Novo.

III – PASTORIL ALAGOANO: Arranjo: Samuel Kerr
Linda estrela que nasce do céu
Anunciando que o natal chegou.
Cobre-se o mal com o Bem,
Fazendo preces ao nosso Senhor.
Paz na terra aos homens de bem
Ser feliz é a nossa vontade
Deus não esquece ninguém
E dá a todos mil felicidades
Aleluia pelo bem que nos conduz
Aleluia, por amor ao menino Jesus!

HEITOR VILLA-LOBOS – CANTO DE NATAL
Poesia de Manoel Bandeira

1-O nosso menino nasceu em Belém.
Nasceu tão somente para querer bem.
Nasceu sobre as palhas o nosso menino,
Mas a mãe sabia que ele era divino.

2- Vem para sofrer a morte na cruz,
O nosso menino, seu nome é Jesus!
Por nós ele aceita o humano destino.
Louvemos a glória de Jesus menino!

HEITOR VILLA-LOBOS - POPULAR PORTUGUES – VIRA
(arr. para solo de soprano e coro feminino)

Nossa Senhora faz meia, com linha feita de luz
O novelo é a lua cheia, as meias são p’ra Jesus!
Ah! Tenho fome, não de pão, tenho sede não de vinho,
O que eu quero é rezar, na igrejinha, bem baixinho. Ah!

BENTO MOSSURUNGA – CRIANÇA
(Arr. José Penalva) Poesia de Heitor Stockler

Criança, carícias de um sonho de amor,
Criança, perfume de flor,
Criança, gorjeios de ave canora,
Enlevo de Nossa Senhora:
Filhinho, minh’alma, meu canto de luz,
Meu doce menino Jesus!

FOLCLORE NORDESTINO – Arr. Alberto Ream texto por Isac Nicolau Salum

Repousa tranqüilo, ó meigo Jesus, a noite vai alta, e a estrela reluz.
A mãe carinhosa nem pode embalar teu berço tão rude, mas ei-la a cantar.
Também seu esposo, piedoso ancião, ao lado murmura suave oração.
Ouviram pastores a nova de amor: o canto dos anjos louvando ao Senhor
E em longa jornada magos orientais hão de vir trazer-te presentes reais.
Repousa tranqüilo, ó meigo Jesus, a estrela se apaga, a aurora reluz!


JOSÉ ALBERTO KAPLAN – VILANCICOS
(Texto da obra Auto das Pastorinhas coligido e reconstituído por Ceição de Barros Barreto)


1 – Cântico de entrada
Hodie Christus natus est
Hodie Savator apparuit
Gloria in excelsis Deo
Alleluia Amen.
2- Anunciação
Vinte e quatro de dezembro, meia-noite deu sinal
Rompe a aurora, a primavera, nesta noite de Natal!
Bate asas, canta o galo dizendo: Cristo nasceu!
Cantam anjos nas alturas: Glória in excelsis Deo!
3- Interlúdio
Hodie Christus natus est
Alleluia.
4 – Oferta
Oferta, oferta, pastora, vem ofertar teu amor
Ao lindo menino-Deus, Jesus, o Salvador
Que bela noite vieram nos dar, e lindas capelas vamos ofertar
Noite feliz, noite ditosa, noite pra nós tão venturosa!
5 – Interlúdio II
Hodie Christus natus est.
6 - Glória
Gloria in excelsis Deo
et in terra pax
homibus bonae voluntatis.
Os pastores que dormiam acordaram assustados
Vendo tantas maravilhas, a Belém se encaminharam.
Gloria in excelsis Deo
Alleluia Amen.
7 - Cântico final
Hodie Christus natus est
Hodie Savator apparuit
Gloria in excelsis Deo
Alleluia Amen.

JOSÉ MAURÍCIO NUNES GARCIA – 3º. Responsório das Matinas de Natal
1767-1830 (para solo, duetos e coro feminino)
Quem vidistis, pastores?
Dicite, annuntiate nobis;
In terris quis apparuit!
Natum vidimus,et choros Angelorum
Collaudantes Dominum.
Gloria Patri et Filio et Spiritui Sancto.



ERNST MAHLE – CANTATA “NOITE DE NATAL” – 1987
(texto baseado no folclore brasileiro, extraído, compilado e adaptado do livro
Pastorinhas, Pastoris, Presépios e Lapinhas, de Dulce Martins Lamas).


1- Abertura instrumental
Tutti: 2 - Bate asas, canta o galo dizendo: Cristo nasceu!
Cantam anjos nas alturas: “Glória in excelsis Deo!
3 – Chegou, chegou, o anjo chegou,
Ele vem nos ensinar o caminho de Belém.
4 – Este é o anjo anunciante, aquele é o anjo cantor,
veio anunciar às pastoras que nasceu o Redentor!
Solo: 5 – Eu sou o anunciante e venho cantar meu hino
No céu houve uma festa pois nasceu o Deus-menino!
Tutti: São José está alegre e Maria está também
Pois nasceu um belo filho na lapinha de Belém.
6 – Já deu meia-noite, o galo cantou,
Vamos ver o Deus-menino que na lapinha chorou.
Aqui estamos reunidos a cantar com devoção
Humildemente a vossos pés e com amor no coração!
7 – Bendito, louvado seja o menino-Deus nascido
Pois no ventre de Maria nove meses foi escondido.
Solo: 8 – O anjo sou, anjo de guia, sou anjo e só faço o bem
Venham comigo, ó pastoras, a caminho de Belém
Assim sou eu uma estrela, uma estrela que reluz
Iluminando dom resplendor o caminho de Jesus.
Tutti: 9 – Divina luz que ilumina esse mundo de nosso Senhor,
Ilumina os caminhos onde nasceu o Criador.
Ora, vamos, pastorinhas, ora vamos a Belém,
Para ver se é nascido o Jesus que é nosso Bem!
E iremos, companheiras por esses campos além
Adorar a Deus-menino que nasceu pra nosso bem!
Solo: 10 – Eu sou a estrela radiosa e brilhante
Que clareia os caminhos ao mortal viajante.
Eu sou a estrela que reluz! O esplendor que trago em mim
Inspira o puro amor no caminho de Jesus!
Tutti: 11 - Bate asas, canta o galo dizendo: Cristo nasceu!
Cantam anjos nas alturas: “Glória in excelsis Deo!
12 – Ó São José, dai-nos licença para no presépio entrar
Viemos para adorar Jesus do céu que nos veio salvar.
Alto Solo: Eu, como sou o anjo, pelos montes vim descendo
A procurar uma rosa, que esta noite foi nascendo.
Irei chamar as minhas companheiras
e junto com elas começar as brincadeiras.
Soprano Solo 13 – Eu sou a estrela, estrela do oriente
Que no céu não há outra tão reluzente.
Rompe a aurora, a primavera, meia-noite deu sinal
A estrela do céu brilha, hoje é noite de natal!
Tutti: 14 – Foram seguindo os três reis, tendo a estrela como guia
Para ver o Deus-menino que é filho de Maria.
Alto Solo: 15 – Eu trago ouro para o menino agradar,
Vou pedir à virgem mãe que nos queira ajudar.
Soprano Solo: Eu trago Mirra para Jesus perfumar,
Vou pedir ao menino que nos queira perdoar.
Soprano Solo: Eu trago incenso pro menino incensar,
Vou pedir ao Salvador que nos queira abençoar.
Tutti: 16 – Com os três magos do oriente
Alegres pastorinhas vão também
Queimar incenso em louvor a Deus-menino
Que nasceu na lapinha de Belém.
A luz da estrela que os três reis guiou,
O mundo inteiro iluminou!
17 – Ó vinde, pastorinhas a Belém,
ó vinde ver Jesus que é nosso Bem!
E todo esse presépio divino foi a primeira noite de natal.
Noite de Jesus menino, noite bela, sem igual!
Solo e Coro: 18 – Eu sou a noite formosa do natal, Noite bela, sem igual,
Do Nazareno tenho um canto sedutor.
Meu sorriso é todo ameno, os astros me acompanham
Numa seqüência de Luz, para adorar a Jesus!
Sou de todas a primeira, como eu não há igual,
sou a noite de natal!
19 – Instrumental (Carrilhão)
Tutti: 20 – Saudemos a noite fagueira do amor,
Mil graças rendamos a nosso Senhor.
Cada ramo tem seu galho, cada galho tem sua flor,
Cada qual tem seu valor, a Jesus o nosso amor!
Rompe a aurora, a primavera, meia-noite deu sinal
As estrelas no céu brilham, hoje é noite de natal!
21 - Bate asas, canta o galo dizendo: Cristo nasceu!
Cantam anjos nas alturas: “Glória in excelsis Deo!

Despedida:
BRASÍLIO ITIBERÊ– CANTO DE PASTORINHA
(sobre um tema popular)
José, José e Maria, Família sagrada
Aceita e benigna nossa retirada.
É com muita pena que nos retiramos,
Adeus meu menino, até para o ano.

“Assim nos contaram – assim vos contei!”

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